Theatro Treze de Maio luta para cobrir um déficit de R$ 400 mil

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Theatro Treze de Maio luta para cobrir um déficit de R$ 400 mil
Fotos: Pedro Piegas (Diário)

Um dos símbolos da Cidade Cultura está sem a sua principal atividade. Com público vetado de assistir aos espetáculos, o Theatro Treze de Maio passa por um processo de adaptação em meio à crise mundial em todos os setores em função da pandemia do coronavírus. No ano passado, parte das atividades previstas foram canceladas ou adiadas. Outras tiveram que se remodelar à única saída possível: apresentações sem público transmitidas pela internet. Isso mudou a rotina dos profissionais técnicos e de artistas. Ao mesmo tempo que a internet levou cultura a todos os cantos do planeta, o principal foco a partir do palco ficou apagado com, aproximadamente, 300 cadeiras vazias. Entre as atividades que dão fôlego para o palco centenário se manter com as portas entreabertas, o lançamento do edital Treze: O Palco da Cultura, que estará aberto de 4 a 18 de maio. A ação vai contemplar nove projetos em 2021. Na reportagem especial desse fim de semana, o Diário conversou com atores (diretoria do teatro e contemplados com o edital do ano passado) desse roteiro de suspense que parece não ter hora para acabar, mas que está sendo encarado bravamente pelos resistentes da cultura.

PROJETO 2021

O projeto Treze: O Palco da Cultura está confirmado para o segundo semestre de 2021, quando completará 15 anos de fomento à cena artística local. O edital receberá inscrições de 4 a 18 de maio e é direcionado a artistas, grupos, coletivos ou companhias de Santa Maria ou que aqui atuam. Com algumas mudanças em função da pandemia, o edital segue sendo um respiro para a cultura que, desde o ano passado, vem se adaptando aos novos moldes impostos pela crise sanitária mundial.

A responsável pelo planejamento e divulgação do projeto, Ana Lucia Silva, explica que a 15ª edição vem com uma programação de nove espetáculos – bem menor do que a de 2020, que selecionou 16 projetos. Além disso, ocorrerá também, a sétima edição dos Diálogos Culturais.– Tínhamos expectativa de retorno de plateia, mesmo que com capacidade reduzida, mas com a piora do quadro da pandemia, tivemos que readequar o projeto. Uma das mudanças foi diminuir o número de selecionados e outra é que os grupos poderão escolher a plataforma que vai transmitir o espetáculo – explica Ana.

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As nove vagas, conforme a assessora, serão distribuídas entre dança, música, teatro e a categoria ‘outros’, que contempla circo, literatura e humor. No ano passado, enquanto o mundo enfrentava a nova realidade de restrições, a cultura continuou viva por meio do projeto. O Palco da Cultura recebeu mais de 40 inscritos em diferentes áreas de atuação artística. Os contemplados se apresentaram por meio de lives. Na ocasião, essa configuração foi possível com o aval da prefeitura, em concordância dos artistas e grupos contemplados. A realização do projeto neste ano vai servir como um respiro para a classe artística.– O setor cultural está castigado. Talvez, para o artista contemplado, o cachê não seja tão expressivo, mas é uma ajuda. Empresas da cidade podem apoiar os artistas, além disso, também terá bilheteria virtual com cobrança de ingresso que vai beneficiar os grupos – explica a assessora.

As propostas do novo edital serão avaliadas por uma comissão formada por artistas e produtores culturais. O regulamento com mais detalhes pode ser consultado no site do Theatro. O projeto Treze é realizado pela Associação dos Amigos do Theatro Treze de Maio e financiado pela Lei de Incentivo à Cultura de Santa Maria. Os selecionados serão divulgados no dia 31 de maio.  

A SAUDADE DO PÚBLICO

O trabalho da diretora do Treze, Ruth Péreyron, praticamente coexiste com a reabertura do Theatro Treze de Maio nesses 23 anos. Personagem familiar aos frequentadores do palco centenário, sempre está ao pé da escadaria, com as mãos cruzadas, cumprimentando e distribuindo sorrisos para o público que se movimenta pelo hall de entrada, em direção às cadeiras.

Ruth é filha de Eva Sopher (falecida em 2018), ícone da cultura gaúcha, que atuou como diretora do Theatro São Pedro por anos. Por isso, passou a vida no teatro. Para Ruth, ver o teatro vazio é algo triste.– Nós somos acostumados a ver a casa cheia. Nos resta esperar e planejar ações da forma que podemos. O teatro é feito para o público e estamos esperando que, a curto prazo, a gente possa receber atrações e as pessoas possam vir assistir. Temos planos e procura para apresentações e para o aniversário da reabertura do teatro, que completa 24 anos – diz a diretora.

Alguns dos contemplados no edital Treze: Palco da Cultura do ano passado, o músico Gabriel Opitz, a atriz Natália Dolwitsch e o ator e diretor Helquer Paez, têm mais do que a arte em comum: a paixão pelo palco do Treze.

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Com a plateia vazia na tarde da última quinta-feira, os artistas compartilharam com a reportagem o saudosismo de tudo o que já viveram dentro e fora do treze. Sonhadores, porém realistas, eles seguem na luta por manter a Cidade Cultura respirando arte, em meio à crise que impactou o mundo. Para Helquer, o Treze é quase uma segunda casa, já que foi selecionado nas 14 edições anteriores do mesmo edital. Atuar em meio às restrições da pandemia foi uma experiência única para o ator.– No ano passado, estreei o meu monólogo Às Seis Horas da Tarde pelo projeto. Misturamos na live a linguagem de teatro e do cinema. Não é a mesma coisa que ter a troca de energia com público presencial, mas a arte não pode parar. Então, resolvemos nos desafiar neste novo formato. Até os ensaios foram online – conta Paez.

Natália, que é envolvida com a arte desde novinha, hoje, tem graduação em Teatro. Aos 15 anos, já atuava e frequentava o Treze.– Eu cresci vindo ao teatro assistir aos espetáculos das minhas irmãs, que são bailarinas. Depois passei a assistir a outros e me apresentar também. A pandemia nos impediu de receber o retorno do público sobre as apresentações, mas também pude me reinventar e, hoje, meu trabalho é 90% de forma online – diz a atriz.

Gabriel Optiz é outro exemplo de artista que tem o Theatro como uma extensão da vida. O músico já perdeu a conta de quantas vezes se apresentou no palco do Treze de Maio e diz sentir muita falta da energia dos palcos.– O que mais sinto falta é do retorno imediato do público. É interessante ver os comentários nas lives, mas isso acontece somente após a apresentação, então é uma nova configuração de troca com o público – diz o músico. 

A PROGRAMAÇÃO DE ANIVERSÁRIO

Além do projeto Treze: O palco da Cultura, o teatro está elaborando a agenda de espetáculos para o resto do ano. O aniversário de reabertura do local, celebrado em 26 de maio, é uma dessas atividades que virá.

O relações públicas e assessor de comunicação do teatro, Sérgio Marques, conta que a celebração dos 24 anos terá algumas atividades. Duas delas têm o intuito de captar recursos e uma terceira, será um abraço simbólico no público saudoso das atividades no Treze:– Teremos um leilão de obras de arte doadas por artistas da cidade e, também, a venda de camisetas com estampas criadas e doadas por artistas. Além disso, teremos uma apresentação para reencontrar o público, em que músicos locais estarão nas janelas do Treze cantando e tocando voltados à nossa praça, para a nossa cidade. Para comemorar e acender a chama da esperança do nosso lado da cultura.

ESPERANÇA

Em 2020, a direção do teatro promoveu algumas ações para arrecadação de verba para pagar as contas e os salários dos funcionários. Foram pedidas doações e também foi aberta uma loja com objetos personalizados. O livro que conta a história de mais de 100 anos da casa foi um dos itens mais procurados. O edital Treze: Palco da Cultura 2020, que contemplou artistas como o músico Gabriel Opitz e a atriz Natália Dolwitsch, da Cia Umbigo de Bruxa (fotos ao lado) também foi um dos recursos. A diretora, Ruth Péreyron, afirma que o teatro terminou o ano com saldo financeiro positivo, porém a reserva acabou. Só em relação a espetáculos, o Treze deixou de arrecadar, pelo menos, R$ 400 mil no ano passado.

Para tentar ocupar a agenda, a equipe do Treze está procurando artistas que aprovaram projetos na Lei Aldir Blac para realizarem as apresentações no local. Há também uma nova campanha, em que é sugerido que os 700 sócios do teatro antecipem mensalidades e, ainda, que empresas realizem eventos ou pagem o aluguel do espaço e fiquem com crédito para eventos posteriores.– Com os projetos aprovados pela LIC-SM municipal, como o Palco da Cultura e o de manutenção, somados aos espetáculos que foram transmitidos pela internet, conseguimos manter o espaço, pagar as contas e os funcionários. Mas nos preocupa como será esse ano, pois o que temos está quase acabando. Precisamos aumentar a receita – relata Ruth.

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Sérgio Marques conta que, apesar das restrições e limitações, já existe uma agenda de atrações:– Temos esperança que no segundo semestre a gente possa, de fato, fazer a execução da programação da nossa pauta. Já temos bastante agendamentos. O pessoal da cultura está se planejando e se organizando com a esperança de que, a partir do meio do ano, possa haver uma certa normalidade. Ou que, pelo menos, possamos realizar eventos híbridos, com metade presencial e metade virtual.

Neste cenário incerto, o que resta é a luta e a esperança de que algo mude, que a vinda da vacina possa estabelecer uma certa flexibilidade nas regras. Ruth Péreyron mantém em seu coração um misto de preocupação e resiliência.– Eu sou muito otimista. Mas fico assustada e perco o sono, às vezes. Fico pensando em ações que a gente pode fazer. Mas tenho certeza que vamos conseguir seguir em frente. Tenho muita fé e acredito que Santa Maria vai nos ajudar.

ELES BRILHARAM EM 2020

Durante o ano pandêmico, mesmo com tudas as restrições, 16 artistas e grupos atravessaram a cochia, para pisar no palco centenário. Todos eles pelo edital Treze : O Palco da Cultura, que tem financiamento da LIC-SM., ofertado pela prefeitura, por meio da secretaria de cultura. Sob o comando de Rose Carneiro, com verba própria com incentivo da Lei Aldir Blanc, a secretaria povoou o Treze com ações como o Viva o Natal, Virada Cultural, aniversário de Santa Maria, Tertúlia Nativista, Feira do Livro e o Santa Maria pela Música e o Viva Santa Maria, que terá mais uma edição em maio.– O Theatro Treze de Maio, mais do que um Patrimônio do Município, é um patrimonio do país. Um espaço cultural de referência. A Associação é super atuante, tem trabalhado direto no planejamento e proposições de meios de manter o Theatro. É um dos nossos cartões postais, por tudo que representa – afirma a secretária.

Em um país em que a educação e a cultura são muitas vezes colocados como secundários, o fazer artístico ganha contornos de resistência. Com a pandemia, a cultura passou por um vendaval. A troca entre artista e público foi transferida para comentários durante as transmissões. Algo novo, que é difícil de remunerar, a não ser por meio de doações. Porém, projetos como os já citados nesta reportagem ajudaram a equilibrar ou, pelo menos, auxiliar emergencialmente as contas desses profissionais.

ELENCO LOCAL

Fotos: Ronald Mendes/Divulgação

Separamos algumas imagens marcantes de alguns desses espetáculos e registramos parte dos espetáculos que, em meio a essa situação de afastamento, levaram um pouco de alento para uma cidade que respira cultura e está sufocada por máscaras e distanciamento social.

Somente do Treze: O Palco da Cultura, subiram ao palco as companhias Armazém, Retalhos de Teatro, Teatro de Bolso, Umbigo de Bruxa, Palhaços Clowncando, Acasos, Casa de Memória Edmundo Cardoso, Crystian Castro, Grupo de Mulheres “Amor, Movimento e Dança”, entre outros que levaram a arte do teatro e da dança para a casa dos santa-marienses.

Também mostraram seus trabalhos musicais, diversos artistas locais, de diferentes estilos e gerações como Pylla, Tuny Brum, Daseroma, Marcelo Demichelli, Gabriel Opitz, Cesar Sosa, Trio Abaporu, Vinicius Oliveira, Kariel, Matheus Dorber, Geringonça, Robson Thomas, Gabro Demais, The Césaros, Arianne TeLima, Vespertinos, Igor Tadielo, Os Marias, Rinoceronte, Fernando Ávila, Banda Charm’s, De Alma Gaúcha, Grupo Raízes, Sergio Rosa, Ângelo Franco, Orquestra Sinfônica de Santa Maria, Daiane Diniz, Tiane Tâmbara e a saudosa diva Deborah Rosa, que fez no Treze uma de suas últimas apresentações. 

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